13 novembro 2014

Dois meses de Irlanda


Parece que foi ontem que eu sai de casa com as malas cheias de roupas e expectativas. Uma mistura de medo do desconhecido e ao mesmo tempo calmaria. Como já repeti em postagens anteriores, tudo era lindo e maravilhoso nas primeiras semanas! Me apaixonei em cada esquina pela cidade. Depois os olhos foram ficando cansados e começaram a surgir as imperfeições provenientes do convívio diário. As dificuldades de encontrar uma casa e emprego batem à porta e você se sente só, perdido num mar de gente.
Minha primeira decepção foi ter que falar português quinhentas mil horas por dia, quando na verdade eu paguei caro para não ouvir minha língua nativa. Visto que se eu quisesse ficar nessa situação de falar inglês só na aula eu teria permanecido estudando no SENAC, cujos professores tem mais didática dos que os que eu tive aqui.
Mas eu não desisti. Mesmo convivendo com muitos brasileiros, cada oportunidade que eu tinha de praticar inglês com nativos era preciosa e eu aproveitava cada milésimo de segundo. Me jogava de cabeça sem nem pensar duas vezes.
Sim, quem faz o intercambio é você. mesmo diante de um grande desestímulo eu não desisti e agarrei com unhas e dentes todas as chances que me apareceram.
Minha primeira casa depois da acomodação foi algo que não estava no script: onze pessoas e um banheiro.  
Como vocês ja devem imaginar, viver com dez cabeças que pensam diferente não é nada fácil. São criações e estilos de vida completamente distintos. Um verdadeiro teste de paciência, resiliência, indulgência e por aí vai. Dividia o quarto com uma menina super gente boa, mas era bastante claustrofóbico: não tinha janela e nenhum espaço pra circulação no lugar. Era tão pequeno que não tinha lá dentro. Mas como tudo depende de como você enxerga a situação, o que eu tirei de bom de lá foram as amizades! E por mais que não fosse o ideal, eu tinha uma cama para dormir depois de um dia cansativo. E isso meus amigos, é bem difícil por aqui.
Não cheguei nem a ficar um mês por lá, porque graças a Deus + muito esforço e persistência consegui um emprego de Aupair live in. Para aqueles que não sabem o que danado é isso eu vou resumir: babá que mora na casa dos gringos. Nossa! Fiquei tão feliz que até queria subir em cima de uma mesa e dançar a macarena. Queria correr e gritar pelas ruas de tanta emoção! Foi uma sensação de alívio sem tamanho. A partir desse ponto tudo mudaria para melhor. Poderia dormir e acordar escutando/falando em inglês. Essa era a melhor parte: ir no supermercado e não ouvir ninguém falando em português.
Já faz quase um mês que estou nesse trabalho (eu prometo que em breve farei uma postagem só sobre ele) e já sinto que evoluí bastante. Depois das turbulências iniciais, finalmente veio a calmaria. Como é bom poder boiar nessas águas brandas e pacíficas, sem pressões, sem desespero. Só você, o céu e o mar.
Se tem uma coisa que a gente aprende aqui é a valorizar as pequenas coisas, momentos e sensações. Você aprende a valorizar o trabalho (seja ele qual for), a ter um quarto só pra ti (aquele cantinho particular pra chamar de lar), a tomar um chocolate quente num dia congelante, a ter uma bicicleta para ir até a escola. As coisas mais simples.
Você passa a enxergar a vida e tudo à sua volta de outra forma. Cada passo é uma grande conquista, é um momento de renovação. 
Eu sou a fênix renascendo das cinzas.
Depois de pegar fogo e se reduzir a pó, você renasce. Depois do sofrimento há sempre uma nova chance de ser melhor. E o mais importante: Tudo é motivo de agradecimento.
Obrigada meu Deus, por dois meses de muitas lutas e vitórias, por essa grande oportunidade de autoconhecimento e crescimento. A fé transporta sim muitas montanhas. E quando falo em fé não é no sentido estritamente religioso. É de acreditar veemente em algo. É preciso termos fé, meu amigos, em nós mesmos. É preciso transportarmos as montanhas que existem dentro de nós e que nos impedem de sair do lugar.
Minha montanha se transportou. 
Obrigada Irlanda, por dois meses de transformações.

Dublin, 11 de novembro de 2014.


Um comentário:

  1. Desejo-te mt sucesso e vitórias. Que bom que as coisas melhoraram por aí! Fé humana é acreditar no seu potencial! Vc vai longe mesmo...

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