16 janeiro 2015

A flor e o vento


E eu que pensei que nunca escreveria assim com tanta voracidade... Minh'alma nua, exibindo as curvas de meu âmago clama pelo renascer. Em uma de minhas viagens pelo mundo afora avistei à beira do penhasco uma pequena flor em meio a gigantescas estruturas rochosas. Só pedra e do outro lado a imensidão do vazio. Estava ela em uma posição que denotava tentativa incessante de escapulir (ou quem sabe só estaria dançando?). Mas como se atrevia uma flor tão pequenina querer pegar carona no vento que cantarolava entre as fendas do grande penhasco? Mal podia ela se manter estável diante de tamanha grandiosidade. A franzina flor cheia de ousadia fizera de sua vida a organização de uma grande fuga, pois seu sonho era voar. 
Sentei-me à beira do penhasco e a observei por um longo tempo a farfalhar de um lado para o outro. Ela me encarou como quem implorava pelo meu auxílio, mas eu não entendia o que ela falava. O barulho do vento era ensurdecedor. Foi então que olhei mais atentamente  e se flores tivessem olhos eu os estaria encarando naquele momento. Eu vi sua alma, nua também. Levantei-me devagar, sentindo os ossos estalando, e afastei algumas pedras com os pés ainda dormentes. A flor me sorriu quando finalmente pôde voar com o sussurro do vento. Eu sorri junto e senti uma paz profunda ao perceber no outro a liberdade em sua mais plena forma. Eu queria ser livre também, então dancei à beira do penhasco e à beira de mim.
Voei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário